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Não Existe Milagre Contra o Câncer


Apesar de pesquisas apontarem para substâncias promissoras, os caminhos de combate à doença ainda são tortuosos - e, em boa parte, desconhecidos.

Os pesquisadores, assim como os pacientes, travam uma batalha diária contra o câncer: ao redor do mundo há muito esforço sendo feito para que um dia, quem sabe, a gente aprenda a combatê-lo melhor. Mas, na ciência, não existem milagres. O que chamamos de câncer, na verdade, é um conjunto de diversas doenças, que agem de formas diferentes em cada parte do corpo. Não haverá solução única para todas elas.

Para cada nova substância que surge como promessas de cura, nasce também uma ponta de esperança, não só nos que sofrem com a doença, mas em toda a comunidade científica. Só que não pode faltar rigor. É fundamental exigir que testes sejam feitos exaustivamente e que a eficácia do composto seja comprovada em ensaios clínicos, quando se leva em conta, de fato, seu uso em tratamentos. Antes disso, a substância não pode ser colocada no mercado. Nem deve: pacientes não podem ser feitos de cobaias.

Não dá para negar que muitas das substâncias estudadas já apresentaram resultados promissores e que talvez, num futuro próximo, elas sejam elevadas à categoria de remédio. Entretanto, esse processo é - e precisa ser - demorado. Nos últimos anos, a polêmica da fosfoetanolamina causou furor nos tribunais e colocou a USP na delicada situação de fornecer pílulas que não têm registro algum e nem sequer foram testadas em humanos. A seguir contaremos essa história e a de outros compostos que surgiram como supostas curas para o câncer.







Fosfoetanolamina:

O nome é difícil, mas está presente no seu organismo - e de outros mamíferos também. A fosfoetanolamina normalmente atua na síntese de gordura, mas pesquisas mostram que ela pode ter a função de sinalizar células que estejam se comportando de maneira atípica. E as células cancerígenas agem de um jeito diferente das saudáveis.

Sabendo dessa possibilidade, há 20 anos, o professor de química Gilberto Chierice decidiu estudar a fosfoetanolamina na USP. De forma independente, começou a fazer testes em culturas de células; depois, em animais. E a droga se mostrou promissora: pareceu estimular a apoptose - a morte celular programada - nas células tumorais.

Desde então, a substância passou a ser distribuída de forma gratuita no campus da USP São Carlos, para pacientes que a solicitassem. A palavra complicada se espalhou.

Até que, em junho de 2014, uma portaria da própria universidade proibiu o acesso à droga. O motivo: o registro junto à Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não existe. Ela jamais foi testada em humanos. Logo, sua distribuição é ilegal - e perigosa. Não se trata, oficialmente, de um medicamento, o que significa que sua dosagem, suas possíveis aplicações e seus defeitos são desconhecidos.

Apesar de tudo isso, pacientes com câncer decidiram arriscar e começar, de forma completamente experimental, o tratamento. Os casos são diversos: alguns já não respondiam à terapia convencional, outros estavam debilitados demais para resistir aos quimioterápicos.

Carlos Witthoeft, da cidade de Pomerode, em Santa Catarina, foi um desses que encararam o risco. Sua mãe, de 82 anos, sofria de câncer no útero. Já frágil, ela não podia passar por cirurgias ou quimioterapia. Restava a radioterapia, que não funcionou. Estudando e conversando com outros pacientes, Carlos conheceu a fosfoetanolamina. Solicitou o envio das cápsulas e, em poucas semanas, sua mãe melhorou consideravelmente: ela recuperou o ânimo e o tumor regrediu.

Impressionado com a rápida recuperação da mãe, Carlos decidiu que iria ajudar as pessoas que não tinham acesso à droga. Pediu então para o professor Chierice, hoje aposentado, o ensinasse a sintetizá-la - e ele ensinou. Depois de quatro meses, Carlos passou a produzir fosfoetanolamina por conta própria e a distribuí-la gratuitamente. Acabou preso por 17 dia, por falsificação de medicamentos.

Após a proibição da substância, no ano de 2014 os pacientes que estavam fazendo o tratamento entraram com liminares na justiça para restituir seu acesso. Muitas ganhavam, o que obrigava a USP a continuar distribuindo as pílulas. Mas a universidade retrucou. "Essa substância não é remédio. Ela foi estudada na USP como um produto químico e não existe demonstração cabal de que tenha ação efetiva contra a doença", informou em nota.

Não é apenas de um "detalhe burocrático", como muitos pacientes apontaram. Trata-se de uma substância que, embora tenha potencial para ser usada no futuro, ainda é quase desconhecida. "Ela se mostrou superior a outros fármacos quimioterápicos nos testes em animais, mas ainda é precoce dizer que ela pode se tornar um tratamento" afirma o farmacêutico Adilson Kleber Ferreira, parceiro do professor Chierice em pesquisas sobre a fosfoetanolamina.

Após toda a polêmica, o , Ministério da Saúde decidiu apoiar os estudos com a droga. Um grupo de trabalho foi fundado para agilizar as análises.

Fontes: Revista Super Interessante.





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